25 novembro 2010

Artigo do Jornal Notícias de Monte Redondo Outubro 2010

Participação cívica

A vida dos órgãos autárquicos, dos partidos, das organizações religiosas, das associações locais, dos clubes e de outras colectividades não existe sem a participação dos cidadãos. Quando não é feita a necessária renovação, estas entidades enquistam, começando a funcionar dos mesmos e para os mesmos, perdendo a sua função principal.
Esta renovação não tem forçosamente de ser feita por elementos jovens, mas deve incluir todos, jovens e menos jovens que possam contribuir com as suas ideias, com os seu esforço e com o seu tempo. É frequente que elementos com experiência noutras organizações possam trazer contributos válidos e novos pontos de vista, até ai ignorados. É também bastante frequente o não aproveitamento do saber acumulado pelos anteriores órgãos directivos por parte dos novos, cada vez que existe uma alteração dos elementos dirigentes. Esta é uma questão difícil, pois quem chega vem com ideias e métodos novos e vê nas opções anteriormente tomadas erros, quando não ilegalidades. Por outro lado, quem sai apenas vê a inexperiência de quem entra questionando permanentemente toda e qualquer decisão tomada. É do senso comum que muito dinheiro, esforço e tempo pode ser poupado nos casos em que esta dificuldade é ultrapassada.
Nem todos podemos ou queremos ser presidentes de uma colectividade, mas todos temos o dever de sermos sócios daquelas que mais nos interessam, estar informados sobre o seu funcionamento e participar activamente nas suas reuniões. Deixar sempre “para os outros” pode ser mais confortável, mas é uma forma de contribuir passivamente para o seu enfraquecimento. Por outro lado, a opção fácil de estar sempre de fora, apenas a dizer mal de quem faz alguma coisa, contribui para o desgaste da organização e desmotiva quem se esforça. Se na assembleia anual de um clube ou associação, aparecem sempre os mesmos (poucos) sócios, esta torna-se uma obrigação estatutária que se cumpre a contragosto, e que nada acrescenta ao funcionamento da dita colectividade.
Opiniões e críticas apresentadas no espaço próprio são oportunidades de reflexão que podem melhorar o funcionamento da organização.

Assim com a de outras organizações o funcionamento dos órgãos autárquicos deve ser acompanhado, vivido, criticado, apoiado e discutido por todos os eleitores e habitantes da autarquia em causa.
Há já algum tempo que decidi seguir com particular atenção as Assembleias de Freguesia de Monte Redondo e Municipal de Leiria. As decisões destes órgãos são tomadas pelos seus membros, mas todos podemos assistir e colocar questões, desde que previamente inscritos e dentro dos limites do regulamento que as rege. Noto que, principalmente nas reuniões da Assembleia Municipal, são poucos os cidadãos presentes, e os que estão são normalmente das freguesias urbanas do Concelho.
Os assuntos tratados em ambas as Assembleias, com implicação directa nas acções dos executivos, são demasiado importantes para que nos alheemos deles, ou para que deles façamos apenas conversa de café, a maioria das vezes mal informados. A nossa participação cívica não se pode resumir a votar de quatro em quatro anos, e a freguesia tem muito a ganhar com o envolvimento de todos..

Artigo do Diário de Leiria de hoje

Um desafio para Leiria

Leiria tem uma posição geográfica privilegiada, no Litoral Centro, entre Lisboa e Coimbra,
é servida por duas autoestradas, tem estação de comboios e está uma hora do principal
aeroporto. Tem uma indústria pujante e inovadora e um nível de vida superior ao de grande
parte do País. O (cada vez mais distante) TGV terá uma estação em Leiria e existe um lobby
forte para a abertura da Base Aérea de Monte Real à aviação civil. É capital de um distrito
onde a industria, os serviços, a cultura, a história e o turismo estão entre os mais importantes
do País. Todos estes factores fazem de Leiria um concelho que tem crescido quer do ponto de
vista demográfico quer do económico.
Estranhamente, a força económica de Leiria não tem equivalente peso político. As principais
decisões, tomadas em Lisboa, vão esvaziando a cidade de serviços e organismos em
favor de cidades mais ou menos próximas, as quais conseguem impor os seus argumentos
quando se trata de decidir um nova localização ou infraestrutura. Se é verdade que muitas
vezes se fica com a ideia de que para os decisores políticos apenas Lisboa existe, também
vemos que algumas cidades conseguem contrariar esta tendência. Não vale a pena reclamar
contra o centralismo de Lisboa se nós não fizermos o nosso trabalho. Temos felizmente
muitos leirienses (do concelho e do distrito) com responsabilidades a nível nacional. Será
talvez a altura de, independentemente das suas convicções partidárias e sem pudores de
protagonismo, se juntarem na causa comum de defender Leiria como cidade média que possa
servir de pólo dinamizador do Centro Litoral.
Leiria tem de encontrar projectos e objectivos comuns e lutar por eles. Objectivos arrojados
mas realistas, que nos diferenciem. Objectivos em que os leirienses se revejam. E todos temos
de abandonar o nosso maldizer e o nosso conforto de espectadores para nos juntarmos e
transformar Leiria.

Publicado no Diário de Leiria de 25/11/2010